Tudo que eu tinha se acabou e foi você quem me tomou, que cara você vai fazer quando a sua casa desabar? '


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Não leve a mal se o que eu quero é voltar, mundo real ainda é meu lugar  


Faz frio em Porto Alegre toda a noite e de longe eu não posso te ver, então me perco em pensamentos de um passado que a muito tempo eu quero esquecer.


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Se não precisa de nada, o que você faz aqui?


Vão te vender sem saber o que hà por dentro e vão achar que com alguns trocados podem te comprar, vão encontrar mil maneiras de te rotular. Em todo o canto sempre tem alguém que quer roubar o seu lugar.

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Hoje mesmo eu percebi que, a cada dia que passa, eu tenho rido menos, mas isso não quer dizer que eu esteja me tornando alguém menos feliz. Muito pelo contrário, é que me acostumei com tanta coisa engraçada que hoje meus dentes não se mostram por pouco. Tem que ser algo muito engraçado pra que eles se animem a ver a luz do sol, pra que se exibam. E você, meu caro, é uma fábrica de coisas muito engraçadas. Eu ria demais.


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Tem gente que transforma areia em vidro, resina em plástico, pensamento em música e tinta em pintura. Tem até gente que se transforma em outras pessoas, ou até mesmo outras coisas. Tem gente que consegue transformar os outros, ou até mesmo uma multidão.
Eu tenho procurado por transformação. Eu tenho buscado ajuda para transformar meus sonhos em realidade, minhas angústias no mais sublime conforto. Tenho encontrado, eventualmente, naquela que transforma qualquer dia em Domingo.



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A coisa certa sempre foi dita para a pessoa errada.


Algumas canções. Costumo pensar que uma música tem cerca de trinta segundos para capturar a atenção dos meus ouvidos. É, normalmente, o tempo que a gente se permite escutar algo totalmente novo, antes de se entediar, passando para a próxima canção. É costumeiro eu ir passando um disco inteiro, ouvindo os primeiros segundos de cada música, até achar uma que me encante, mas que me encante rápido. Imediatismo? AHAM.

Havia canções cujos refrões me cansavam. Refrões que eu não quero e não vou repetir. É que, certas vezes, a outra parte não percebe o quão prejudicial para a alma é ser lembrado a cada minuto dos nossos defeitos. São refrões que eu prometi para mim mesmo, não mais cantar. “E desde quando você acha que pode saber mais de mim do que eu?” – é o que tenho cantado. Próxima faixa.
Tenho ouvido introduções marcantes. Mas as pontes, os pré-refrões, de tão empolgantes, têm gerado apenas frustração, pois invariavelmente tenho me deparado com refrões difíceis/incompreensíveis. Versos demais, rimas demais, notas difíceis de se alcançar, muitas delas feitas para não serem alcançadas. Se tu esperares demais do mundo, das pessoas ao teu redor, podes ter uma única certeza: a decepção, implacável e impetuosa. “Coração vazio não bombeia sangue”. Eu quero assoviar uma melodia que me lembre alguém, mas eu não sei nem assoviar. Próxima. Próxima. Next!
Tá.

Um dia desses, eis que me invade os fones uma melodia nova. Eu jamais poderia dizer o próximo acorde que viria, pois tudo se desdobrava nos mais intrincados trechos, novas partes, em andamentos diferentes, mudando a cada maldito compasso. Em versão resumida: não consegui te decorar, não sei te tocar, e me pergunto algumas vezes por dia quando é que vou ouvir novamente, essa canção.

A música estava no ar o tempo todo, eu é que estava usando fones.
Passei o tempo todo despejando notas na tua melodia. Deixa que eu canto. Gostei de ti assim, instrumental.



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Não. Porque tem que ter drama. Se não tiver drama, eu faço acontecer o drama. Por isso deve ser tão difícil conviver comigo, quem sabe? Pra mim, quanto mais dramático, mais bonito.

Eu sei.

A: De onde paramos?
B: Nunca paramos.
A: Conversas repetitivas…
B: Vida repetitiva.
A: Cadê voce?
B: No mesmo lugar.
A: Quem é você?
B: A mesma pessoa.
A: Eu cansei.
B: Do quê? Nem começamos.
A: Temos algo pra começar?
B: Para. Já acabamos com isso.
A: Acabamos com o quê?
B: Com o encanto.
A: Perdeu encanto?
B: Se transformou em nostalgia.
A: Você não me pergunta nada, nunca.
B: Cadê voce?
A: Te procurando.
B: Quem é você?
A: Não sei.



Sobre C e E.
Você disse "Oi"; eu respondi.
Você não tinha mais cigarros; eu ofereci.
Você queria andar; corremos.
Você queria beijar; eu também.
Você tinha medo; eu não.
Você tinha algo; eu não tinha ninguém.
Você me beijou. Você me beijou.
Eu queria beijar; você não sabia mais.
Eu queria correr, você fugiu.
Eu tinha você; você não queria nada.
Eu disse "Oi"; você disse "Adeus".
Eu tenho tantos cigarros; você nem fuma mais.
Queria que você ligasse; você não ligou.
Queria que você falasse; você se calou.
Queria que o tempo passasse; você voou.

A: Vamos nos encontrar?
B: Já nos encontramos. Inclusive, já nos perdemos.
A: Vamos tentar!
B: Já tentamos, mais de uma vez. Vamos parar por aqui?
A: Estamos parados há muito tempo.
B: Então, vamos deixar tudo como está.
A: Não podemos. Já mudamos tudo.
B: Vamos fazer o quê?
A: Não sei, me liga.

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Homem não acredita em homem.

Perdi, e digo: sei aonde perdi – e não tenho coragem de voltar pra buscar. É que eu perdi; aí, ganhei de novo. Mas perdi, mais uma vez. Eu perdi duas vezes, no mesmo lugar. Eu perdi muito tempo. Não, eu não perdi; Eu estou perdendo muito tempo. Eu perdi as palavras. Na verdade, estou repleto delas. Não tenho é coragem pra falar. Eu perdi o sono. Ah, esse eu nem quero mais. Eu perdi uma porção de camisetas das minhas bandas preferidas. Eu perdi a razão, perdi a vergonha, perdi meu isqueiro, perdi minha coragem. Perdi minha coragem, merda.

A: Vamos?
B: Agora?
A: Então deixa…
B: PORRA, você não tem paciência!
A: Tenho, até demais.
B: Eu não tenho paciência com você.
A: Eu tenho medo de várias coisas.
B: Inclusive de você.
A: Me diz alguma coisa boa?
B: O quê?
A: Nada, esquece.



É claro - que tá tudo escuro.
Algo me diz que perdemos algo. Pode ser que não seja nada demais. Pode ser que seja a coisa mais importante do mundo. Não faz diferença. A coisa mais importante do mundo, não é nada demais. Você acha que o amor é tudo na vida e, de repente, vê que não sabe nadar. É, você não sabe nadar. E se o avião cair no mar? O amor vai te salvar? Não, a natação vai te salvar. E se você escorregar na piscina? E se o barco afundar? E se um tsunami atingir a tua praia? 

Eu tô nadando contra a corrente.

A: Bons amigos?
B: Mais do que amigos.
A: Menos do que amantes.
B: Menos drama.
A: Mais amor.
B: Mais paciência.
A: Menos indecisão.
B: Menos…
A: Menos?
B: Mais.
A: Agora?
B: Depois…
A: Depois vai ser diferente.
B: Se depois fosse óbvio, você não estaria aqui.
A: E se eu for embora?
B: Não seja tão óbvio.


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Sobre as coisas que cabem em Um Mês.

A preguiça física nos impede de mudar. Mas basta uma faísca entre dois neurônios para que nossa mente nos aponte para outra direção. Das duas uma: ou tu segues as novas coordenadas, que te podem levar por terrenos inóspitos e até mesmo campos minados, ou optas por permanecer no curso antigo, ignorando a intermitente buzina que te avisa: "estás no caminho errado". Não digo "errado" no sentido mais amplo da palavra. Talvez sejam justamente as instruções antigas, as que estavam corretas. Mas acredito que, às vezes, precisamos deparar com um beco sem saída para descobrirmos que o caminho é pro outro lado. A vida já cansou de me provar repetidamente que a escolha certa é justamente a que me parece mais errada. Mas a gente precisa errar. Mas não errar por engano, por distração, displicência. Eu erro com força, e com vontade. Eu erro melhor, para errar menos.
Sigo a maré das sinapses. Se a mente muda, eu mudo. Somente assim eu posso ser cem por cento sincero com aquele que mais estimo: eu. Egoísta: para caralho, mas se eu não fizer as coisas por mim, sei que minha mãe não as pode fazer, e nem tenho mais idade para isso. Dirijo com o tanque na reserva, mas é para voar baixo.
"Tá, mas o que é que cabe em um mês?" – tu perguntas. Um ciclo lunar, um ciclo menstrual, uma copa do mundo, duas olimpíadas, um amor de verão, quatro amores de verão… Um mês é o tempo que levei pra escrever denovo. O tempo que minha mente demorou pra mudar o curso da minha alma. Pra onde ela aponta agora? Pra bem longe.

Prometo ser mais ágil, da próxima vez.

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Quem é você que não me vê? Cadê você que eu não vejo? Cadê você pra me dizer que tudo isso vai passar? Eu vou entrar na tua casa, eu vou entrar na tua vida.. eu vou sentar e esperar tu me mandar embora mais uma vez. Quem é você que me esqueceu. Cadê você que eu não esqueço? Quem é você que me prendeu e depois me deixou pra trás?


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Sobre tu e você.
Posteridade. Dá até medo dessa palavra. O que será posterior ao agora? O que é posterior ao que foi ontem? E porque não repetimos (para a posteridade), aquilo que fizemos antes? Tô cheio de problemas, de erros de português, de rock inglês cantado por americano, cheio de eletrônicos do chinês, cheio de amigo chinelo com visto italiano.

A: Por quê?
B: Você sabe que eu não sei falar "Tu".
A: Tenta, é fácil.
B: Fala "Você", então.
A: Eu não. Não é assim que eu aprendi.
B: Nem tudo é como a gente aprende. Pelo visto você não aprendeu.
A: Tu que não quis me ensinar.
B: Você não pediu.
A: Me ensina?
B: Não sei mais.
A: Viu? Tu nunca te decide.
B: Por que você sempre quer decidir pra mim?
A: Porque "você" nunca decidiu por mim.

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Tolo. É desmedido. É desmedido demais. Exagerado. Chega ao ponto do ridículo, porque parece forçado. Chega ao ponto do engraçado, por ser de uma ingenuidade sem precedentes. 
Tolo. A telepatia ainda não foi comprovada, e ele não sabe que seu bradar de teclas nervosas pode estar sendo em vão. Nunca cogitou a hipótese de que todas suas palavras, tão lidas, tão comentadas e celebradas têm uma enorme chance de não estarem surtindo efeito nenhum, justamente porque o destinatário está em todo lugar menos no alvo das suas flechas. Tolo. Assim, ele estufa o peito e vai. Manda e-mail, scrap, liga, cutuca, ou grita. Ele não se importa muito com o sucesso no final da empreitada, pois sabe que o sucesso está no processo, que a emoção está na perseguição e que a resposta, na pergunta, quase sempre.
Tolo, mas um tolo que sabe que o único amor sincero, desmedido, exagerado e insensato é, curiosamente, aquele mais comum: o platônico. Mas esse mesmo amor não é dotado da capacidade de mover montanhas. A amizade sim, o amor de mãe, mais ainda. Mas o platônico não move um grão de areia. Ele termina no mesmo ponto em que começou, no quarto, no computador, na espera sem motivo e na nuvem de angústia que jamais precipita sobre a sua cabeça. O amor platônico inspira os poetas, motiva os cantores, dá rumo aos que estão perdidos, ao mesmo tempo em que os adoece, os mata, lhes borra o sentido da existência. Tolo é aquele que, mesmo achando já ter ido longe demais, quer ultrapassar o sentido do "além". Quer ver por detrás da curvatura da terra o fim da linha, o muro, o buraco, o abismo ou a bifurcação. Não importa. Ele quer ver algo novo, que o tire da roda-viva de acordar-comer-dormir-repetir.
Tolo que procura a tolice, por julgar a coesão politicamente correta demais.
Tolo, por saber de tudo isso, inclusive dissertar prolixamente sobre tudo isso, e ainda continuar sendo, por assim dizer, um tolo.



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- Eu sei muito bem da raiva quem dá, a gente soca as paredes sem se importar, e o que é que nos faz quebrar a cara de novo e de novo sem jamais desistir? E eu sei muito bem da tristeza que dá, a gente compra, troca, finge, mas jamais quer ficar.. e olha pra quem nos quer como quem já não quer mais, e tudo o que a gente quer é ser deixado em paz. E a noite vem pra tirar de nos lágrimas dos olhos e o brilho da voz, de tanto gritar até a garganta sangrar, a gente fecha os ouvidos pra voz que não quer calar e ela diz:
Eu preciso, você também. Todo mundo precisa de alguém.
 
 
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Eu nunca digo que vou mudar. Eu nunca mudei, e não foi porque eu não quis. É simplesmente porque esse sou eu, e qualquer esforço em não me ser seria, por si só, uma traição. Mesmo que pudesse voltar no tempo, mesmo que pudesse fazer tudo de novo, todas as desventuras que vivi levar-me-iam ao mesmo agora. E eu jamais estive tão apegado ao presente. Jamais estive tão alerta, tão atento, tão sedento pela luz do sol e, principalmente, por essa não-luz da noite, que a muitos assombra e, a mim, inspira. Eu vejo em cada uma dessas esquinas dobradas um novo horizonte, uma nova página para escrever com meus desastrados passos. Quando deito na cama para ler o livro dos meus dias, invariavelmente encontro nas minhas frases sem concordância os maiores acertos. E foi escrevendo um desses parágrafos rasurados que te vi errando também. Mas tinhas a capacidade de escrever sem olhar pras mãos. Olhavas pra mim, do outro canto daquela sala. No entanto, com hercúleo esforço, superei minha curiosidade e todos os meus mais primitivos instintos, para conseguir esperar o forte, intenso e último toque que a tua caneta deu naquela folha branca. Então eu comecei a escrever compulsivamente, extrapolando os limites do papel, riscando mesas, sofás, tapetes, inclusive o chão, até que minha caneta alcançou o teu papel. A página está totalmente em branco, e podemos escrever nela o que quisermos.




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Eu nem preciso mais escrever torto, pois tu já distorceste minhas palavras ao teu bel prazer, nessa busca incessante de motivos pra se desligar de mim para todo o sempre. Conseguiste? Acho que sim, visto que deslocaste destinatários de palavras teleguiadas e instauraste o mais próximo do caos que eu pude experimentar. Hoje vi pensando coisas erradas a meu respeito uma das únicas pessoas que eu faço questão de não desapontar. É triste, é irreversível, e foi homologado em primeira instância.
Mas eu vivo de consertar as coisas. Eu vivo de remendos, de soldas mal-feitas e colagens que me (e te) salvam. Eu sou a agulha e a linha.
Trauma. Fazer o quê..



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E, como uma superação tu ganhas o quê? A propósito, tu chamas isso de superação? Tens a sensação de estar mais segura com todas essas grades que colocaste nas tuas janelas? Eu posso perfeitamente te espiar através dessas barras de ferro. Só o que não posso é me fazer ser ouvido. É esta a tua tão-falada "superação"? Tu não me ouves mais, na ilusão de que o silêncio vai me remover dos teus pensamentos, junto com todos os teus outros problemas. No entanto, através das minhas janelas sem grades, vejo-te seguidamente a observar meus passos por essas salas. Percebo-te porque te ouço. Minhas janelas não são a prova de som. E tu podes falar comigo sempre que puderes, sempre que decidires abrir tuas janelas pra me fazer te ouvir.

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Recesso. Se tudo que eu falo pra ti são espinhos e o que faço pra ti são lanças, vejo em tuas feridas pontos finais. Sinais pra não falar ou fazer mais. Por isso o ponto.
Se anulam prós e contras. O saldo é zero. O começo e o fim se aproximam, se unem e se beijam, como num filme.


O tempo que nós tínhamos pra conversar não foi suficiente pra eu te contar, sobre tudo que pulsava aqui dentro de mim, e quando eu te encarava até você desviar, eu via que não tem nada no seu olhar. Que seja indispensável pra eu poder viver então preste atenção no que eu te dizer: Não volte mais, e siga sem olhar pra trás, e, se olhar, não vai me ver porque eu vou desaparecer, mas vou voltar pra te assombrar e aí você acordar do pesadelo e perceber que a sua vida é assim também.


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A Encomenda. Todos os nossos pensamentos e atitudes são como uma encomenda anônima que a gente faz pro destino. Inconscientemente, queremos que nossas ações desencadeiem uma série de acontecimentos cujo roteiro já foi definido na nossa cabeça. Antes dos 10 anos a gente aprende: não é assim. A gente costuma achar que o mundo inteiro pensa da mesma forma que a gente. A gente costuma achar que somos amados pelos mesmos motivos pelos quais amamos. Mas se as rosas que eu jogo ao vento te ferem como flechas, de quem é a culpa? Minha que não é. Por essas e outras é que as pessoas vivem doentes, na incessante busca pelos 100% de satisfação. A gente apelida essa utopia de "amor perfeito", de "amor de verdade" e de inúmeras coisas, como se o amor – puro e simples – não fosse o bastante. 
E o amor – simples, sem adereços – já é tão complexo, tão raro, que muitos que conheço já se aproximam dos 30 sem saber o que é. A gente ama e, inconscientemente, encomenda um amor igual. O que nos bate a porta não é menor, não é pior, é diferente. É o amor que um outro alguém construiu, esperando receber em troca um espelho do que sentia.




Quando, com um passo tu ficas dois passos mais distante, é porque ela também está indo embora. É aí que tu começas a pensar nesses laços invisíveis que nos amarram uns aos outros. Que tamanho eles podem ter? Podem continuar apertados mesmo quando suas pontas já não mais ocupam o mesmo lugar? Sentes um fisgão nos pulsos quando abraças outro alguém?
Livra-te dos laços. Não falo de cortar. Podes desamarrá-los com o mesmo carinho que tiveste quando os tornaste apertados como braçadeiras. Lembra-te de que laços não são algemas. Agora divide essa corda e presenteia quem tu quiseres com esses pedaços. Eles são pequenos o suficiente para não virarem nós? Perfeito.


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Alguma solidão alguma desilusão é necessária, pra que saibamos onde estamos, o que sentimos e o que queremos. E provocar uma desventura dessas na vida de outra pessoa às vezes torna-se primordial, pra que saibamos o quanto valemos e o que significamos. Welcome back.


E quem sou eu por detrás do contraste +40 e de uma ligeira correção na curva do Azul?
E quem sou eu, por detrás desses microfones, despido da minha guitarra, oferecendo minhas duas faces aos tapas do mundo através de nada mais do que surradas palavras? Que passos são esses que me levam pra esses teus lados? Que caminhos são esses que te colocam junto de mim, mesmo sem saber que já partilhamos dessa mesma rota nas inúmeras vezes em que o teu olhar cruzou o meu, cheio de culpa?
É longa a estrada. O tanque está cheio e sigo, sem freios, no aguardo da próxima parede.


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- Mas nem todo barulho que eu pudesse vir a fazer te faria olhar pra mim. No meio de todos esses versos, refrões e "partes C", te perderias, achando que, na verdade, eles são para outro alguém, quando, na verdade, não percebes que todo e qualquer verso torna-se público assim que a tinta toca o papel. Assim que escritos, meus versos são de todos que os lêem. São tanto meus quanto seus. E eu posso muito bem pegar tais versos e endereçá-los a ti nesse dia de hoje, por assim querer, mas não acho que seja o mais correto a ser feito. Quero que um dia acordes como destinatária e aí sim, me respondas, usando os versos que vires a escolher. E esses versos serão nossos para todo o sempre, pois somente nós conversamos assim. Somente nós desacreditamos tudo e lançamos a todos o mesmo olhar descrente e decepcionado. Esteja aqui quando eu gritar. Esteja aqui quando eu precisar. Esteja aqui, e me faça continuar.


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Essa dor que tu sentes, esse sentimento que te desliga do mundo, que te coloca em contato apenas com mil fantasmas, mil medos e mil coisas que tu não querias ver... não foi feita pra te derrubar. Ela existe apenas pra ilustrar a quantidade de passado que estamos colocando na mesma sacola. Nosso passado. Ela existe apenas pra te lembrar o quanto de história nós vivemos, caso venhas a esquecer tudo isso, novamente. Eu sinto a mesma dor, mas foi de tanto sentir que aprendi as coisas que hoje te escrevo. Aprendi que é ela, a dor, quem te faz ser importante. É ela, a dor, que cresce exponencialmente todo dia, pra que haja espaço pra ti dentro de mim, quando ela vai embora (mas nunca é pra não mais voltar). E quando teus olhos brilharem perto de mim o bastante para te alcançar com meus braços, tu vais esquecer a dor, a espera que machuca, as coisas tu fizeste achando que iria me agredir, e todas as feridas serão curadas. Um novo coração pra sentir tudo aquilo denovo, só que de forma mais intensa, mais duradoura, mais viva. A dor, sua mais nova amiga.




Quando tento de ti me aproximar em sonhos, é que acabo surgindo em outros lugares, cada vez mais distantes de onde quero estar. Pergunto-me o porquê dessa indesejada distância e, antes de terminar o questionamento, eis que te visualizo a uma distância enorme, que eu não saberia quantificar. De muito longe, passo a acompanhar com os olhos o rumo dos teus pensamentos pelo céu escuro de estrelas escondidas pelas luzes de postes e prédios. Eles chegam até mim e desviam no último momento. Sobrevoam, dão voltas ao meu redor, sopram sussurros pela minha nuca, mas nunca encostam em mim. Fogem ao meu toque, escorregam por entre meus dedos... teus sonhos não são meus. A madrugada avança até que um desses espectros pára de repente ao meu lado, e me chama pra passear. Dentro do teu sonho, voando na velocidade da luz até o teto do teu quarto, onde pairo a centímetros da tua face, respirando baixinho pra não te acordar, eu fecho os olhos.
O telefone toca me acordando, fim do meu sonho. Não é ninguém. Estou muito mais perto de ti, agora, mas entre nós ainda existe uma centena de paredes, uma dezena de dúvidas e uma só saudade.







Se há razão Se ainda há tempo pra viver
Se eu não posso te levar (aonde você for)
Eu seguirei você.





- A shot in the dark leaves a scar on the heart.


- Eu odeio avião. Ódio esse dividído em mesma proporção com o ódio de despedidas.
Eu tinha que me despedir e deixar voar, quando na verdade eu queria estar dentro daquele avião - e sem passagem de volta.
Eu não me despedi, nem entrei naquele vôo.
Quem sabe não seja o momento da despedida;
Quem sabe não seja o momento de voar.
Para, pensa, respira. Fala com os amigos e com a família.
Para, deita, se atira. Fala para os outros que já sabe com quem ir.


-


O que você não vê E quando eu gritava e gritava pra fazer o mundo ouvir
Eu escutava uma voz sussurrando para eu não desistir
"Siga a sua vontade, você já sabe aonde ir;
Não há mais nada no caminho que possa te impedir."

Eu fui embora e te deixei sonhando
Eu fiquei planejando como retornar
Eu sigo em frente, eu sigo caminhando
Eu sigo esperando a hora de voltar.


-


I'm not one who make believes
I know that leaves are green
They only change to brown when autumn comes around
I know just what I say
Todays not yesterday
And all things have an ending...

But what Id like to know
Is could a place like this exist so beautiful
Or do we have to take our wings and fly away
To the vision in our mind?


-


Um dia. E eu que achava ja saber de tudo, não sabia o que ia fazer
Todo mundo me mandava caminhar quando eu queria correr
Eu não tinha convite, eu não podia entrar
Eu encontrei a porta aberta e resolvi ficar

Eu perdi todas as manhãs que a noite conseguiu me tirar
Esqueci das tardes esperando a noite chegar
Eu cheguei onde queria e não queria mais voltar
Eu encontrei a porta aberta e resolvi fechar.


-


Foi um ácido! O avião se transformou Coca-Cola com baunilha.
Meia-comédia, meio sem jeito. Um frio que virava calor quando batia no peito.
"Deixe de lado os olhares estranhos. Aceite seus erros, acertos e esqueça seus planos. Para tudo! Para tudo!", repetia.
Não parava de repetir.
Eu deixei tudo de pupilas dilatadas, e afinal, nunca é hora errada, não existe hora certa.
Não tem "não", não tem regra do "porque".
Eu resolvi parar.
"Vai dormir sabendo", uma única vez. Sem repetir.


-





Não, eu nunca vou mudar não vou fugir de tudo que eu sempre quis.

- A tua presença os meus pensamentos parece ter feito o resto do mundo evanecer frente aos meus olhos. Eu consigo facilmente enxergar teu vulto sob a luz dos postes, bem como o teu reflexo ao lado do meu, nas vitrines das lojas. A TV tenta, mas não consegue abafar o som da tua voz, cujo calor provocado pela proximidade da tua boca me fez esquecer do frio que faz lá fora. No lugar de onde venho, sempre faz frio lá fora, e eu levo A vontade de sanar esse frio me trouxe até você. E, agora, com teus passos ecoando junto aos meus, acho que não consigo mais andar sozinho. E, mesmo que eu consiga, não quero fazê-lo. Hoje eu sei como é a sensação de acordar e ver que aquele sonho antigo nada mais é do que a atual realidade.


-


Uma coisa é você respirar. outra completamente diferente é você tomar a decisão de colocar ar pra dentro dos pulmões segundo sim, segundo não. Sim, é instintivo, é um reflexo, mas por inúmeras vezes já me flagrei cogitando privar meu sangue desse oxigênio que, aos poucos, escasseia, mas ainda me cerca em abundância. É que, em tudo que eu faço, existe uma intenção - por vezes inconsciente - de fazer com que tudo, pelo menos, pareça ter saído conforme planejado. Finjo ter previsto tudo que hoje me acontece quando, na verdade, mal sei onde meus pés me levarão no próximo passo.
São cinco horas da manhã e meus pulmões precisam de mais ar do que eu posso dar a eles. Respiro rápido, quase ofegante, logo, sem tempo de pensar. Os dias são cada vez mais curtos e muitas coisas têm acontecido de forma tão rápida e intensa que muitas coisas têm me escapado aos olhos.

Quando as vejo, já são pegadas, rastros, ou pequenas silhuetas difusas no horizonte eu deixei pra trás.
Sou pego de surpresa pela sensação de caminhar sobre a mais fina camada de gelo, combinada pela paranóia de processar, de arquivar e documentar tudo a que tenho sido acometido. Algo me diz, lá no fundo, que absolutamente tudo pelo que tenho passado é e vai ser muito importante. Muito importante.
Enfim, é bom sentir medo. Estranho é estar inseguro. É bom não saber o que acontece amanhã. Ruim é não ter o que fazer hoje.
Passa pra mim que eu jogo na lateral esquerda. Corro o mais rápido que posso, sem jamais olhar pro lado. Chegando na ponta da área, eu não cruzo. Meto uma bica rumo à meta. Quase sempre pra fora. O centro-avante reclama do meu individualismo.
Eu sempre amarro minhas chuteiras como se me preparasse para o jogo da minha vida. O juiz autoriza a saída de bola, e hoje é dia de gol.
Abri os olhos, e, daqui pra frente, vou respirar sempre o mais fundo que eu puder.





-




Só um significadozinho nisso tudo já me faria dormir melhor.


- Aonde foi que eu errei ? - O brilho que emana da tua alma pode ser visto a qualquer distância. O teu erro foi querer mostrá-lo a uma moça cega dos dois olhos.
- É, meu caro, talvez essas Meias não tenham sido realmente feitas para os seus pés.


-



Nada começou e já quero saber como será o fim. Nada terminou, e eu esqueci como foi que eu comecei. Tudo acontece e é o nada que tenho procurado nesses últimos dias. Mas eu não faço nada para que isso aconteça, e é por isso que tudo tem acontecido, assim, dessa forma.


É chegado o dia em que a gente vai parar de fazer as coisas pela metade, para fazê-las de verdade. Não mais direi meias-palavras, muito menos acreditarei em meias-verdades. Eu quero a verdade por inteiro, e quero que ela seja dolorida, se tiver que ser, ou prazeirosa, ou como eu bem quiser - mas que seja de verdade! Eu quero conhecer as pessoas por completo, ir além da casca e, em suas almas, encontrar as ferramentas para curar as feridas da minha. Para que isso aconteça, vou me relacionar além da superfície, e ver que há algo por detrás dos olhos, e que o abraço não traz apenas calor. Que risquem dos dicionários a solidão.
Quero conseguir ouvir mais do que palavras e arrancar sorrisos que contenham mais do que dentes e gengivas. Eu quero sorrisos nos olhos. Quero que o choro seja mais do que simples murmúrio e que as risadas me tragam a paz que eu preciso.
em que a gente vai parar de fazer as coisas pela metade, para fazê-las de verdade. Não mais direi meias-palavras, muito menos acreditarei em meias-verdades. Eu quero a verdade por inteiro, e quero que ela seja dolorida, se tiver que ser, ou prazeirosa, ou como eu bem quiser - mas que seja de verdade! Eu quero conhecer as pessoas por completo, ir além da casca e, em suas almas, encontrar as ferramentas para curar as feridas da minha. Para que isso aconteça, vou me relacionar além da superfície, e ver que há algo por detrás dos olhos, e que o abraço não traz apenas calor. Que risquem dos dicionários a solidão.
Quero conseguir ouvir mais do que palavras e arrancar sorrisos que contenham mais do que dentes e gengivas. Eu quero sorrisos nos olhos. Quero que o choro seja mais do que simples murmúrio e que as risadas me tragam a paz que eu preciso.