Tolo. É desmedido. É desmedido demais. Exagerado. Chega ao ponto do ridículo, porque parece forçado. Chega ao ponto do engraçado, por ser de uma ingenuidade sem precedentes. 
Tolo. A telepatia ainda não foi comprovada, e ele não sabe que seu bradar de teclas nervosas pode estar sendo em vão. Nunca cogitou a hipótese de que todas suas palavras, tão lidas, tão comentadas e celebradas têm uma enorme chance de não estarem surtindo efeito nenhum, justamente porque o destinatário está em todo lugar menos no alvo das suas flechas. Tolo. Assim, ele estufa o peito e vai. Manda e-mail, scrap, liga, cutuca, ou grita. Ele não se importa muito com o sucesso no final da empreitada, pois sabe que o sucesso está no processo, que a emoção está na perseguição e que a resposta, na pergunta, quase sempre.
Tolo, mas um tolo que sabe que o único amor sincero, desmedido, exagerado e insensato é, curiosamente, aquele mais comum: o platônico. Mas esse mesmo amor não é dotado da capacidade de mover montanhas. A amizade sim, o amor de mãe, mais ainda. Mas o platônico não move um grão de areia. Ele termina no mesmo ponto em que começou, no quarto, no computador, na espera sem motivo e na nuvem de angústia que jamais precipita sobre a sua cabeça. O amor platônico inspira os poetas, motiva os cantores, dá rumo aos que estão perdidos, ao mesmo tempo em que os adoece, os mata, lhes borra o sentido da existência. Tolo é aquele que, mesmo achando já ter ido longe demais, quer ultrapassar o sentido do "além". Quer ver por detrás da curvatura da terra o fim da linha, o muro, o buraco, o abismo ou a bifurcação. Não importa. Ele quer ver algo novo, que o tire da roda-viva de acordar-comer-dormir-repetir.
Tolo que procura a tolice, por julgar a coesão politicamente correta demais.
Tolo, por saber de tudo isso, inclusive dissertar prolixamente sobre tudo isso, e ainda continuar sendo, por assim dizer, um tolo.



-

Nenhum comentário:

Postar um comentário